quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Vida Murcha

Com olhar primaveril
Lançou em mim o afeto
Que fez em mim florescer
A mais bela das rosas
Que dia a dia te oferecia
Dia a dia era negado
Com os mais belos buques
A rosa era acompanhada
E apenas os ramos ela olhava
Reguei de sentimento
Fiz de minha alma terra
Recolhida, a rosa desabrochava ao te ver
Cada vez mais bonita e mais negada
A água não faltou
A terra sobrou
E ao passar do tempo
Todas queriam essa rosa
Não sabendo elas que há negava todo dia
Nos homens somos rosas
Um campo inteiro de rosas
Mas elas querem outras rosas, outros homens
Assim algumas se contentam
Com as mais belas das rosas
E outras esperam a próxima estação
Passa verão, campo florido
Chega outono frio sofrido
Com o olhar gélido
Podas minha rosa pela raiz
Com teu punhal negro e cego
Dá o teu veredito sem afeto
A rosa murcha
A vida murcha

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Imo

Sinto cheiro de mim
De olhos fechados
Sou cabeça e coração
De nada adianta dormir
Se o coração não quer
Mas se pode sentir
Sem que a mente queira

domingo, 21 de agosto de 2011

Rios


A vida nos leva em rios tortuosos
Nas cascatas dos seus olhos
Nas pedras que sua voz joga no meu coração
Se não bastasse a água esta morna
Enquanto para outros ela ferve
Meu rio desviou do teu, nada quero de ti
Nossas corredeiras são diferentes
Minha calma e com um delta na foz
A sua de topografia íngreme, de deságue
Por mais que negue, minha água estará em você
É o ciclo, e sempre nos encontraremos no mar

quinta-feira, 18 de agosto de 2011

Bar



Minha alma servi em copos
Nos quais, as mais belas donzelas
Beberam-me, e depois
Bêbadas beijaram os bêbados
Que estavam jogados nos bares
Ao lado de qualquer alambique
Eu tomado por elas
E elas tomadas por eles
Quanto mais imundo mais
Atraiam-nas, e eu
Sempre do outro lado do balcão
No lado que não cabe a diversão
Como observador obcecado
Pelos lábios pintados delas
Agora já borrados
Suas visões já embaraçadas
Faziam daqueles rabugentos príncipes
A das camas que dividiam com os ratos palácios
Suas perucas despenteadas
Estavam fétidas, isso não me criava repudio
Muito menos aos bêbados
O som de gente tomava o local
Gargalhadas rodopiavam na nossa cabeça
Os copos de alma quebrados no chão
Elas estavam em mim
Mas mesmo bebendo-me eu não estava nelas.

terça-feira, 12 de abril de 2011

Movimento

Quero escrever movimento puro
Por isso escrevo andando
Em idéias de inspiração
Sem derramar um só pingo de suor
Pelo desforço de escrever
Meu andar é calmo e lento
Porém movimento
De palavras vou a pensamentos
E aos poucos
Chego a lugares que nunca estive
Mas que posso ver rastros meus
Eu os construí
Na centelha da imaginação
Que uma vez mais me levou para andar

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Felicidade reprimida

Estou feliz
Mas a felicidade
Em mim é um grito
Reprimido e abafado
Pelos nós de angustia
Na minha garganta
De que adianta ser feliz
Se ninguém sabe que és?
Não procuro um ombro amigo
Procuro o mundo
E que ele saiba
Que estou feliz
Ai de quem duvidar
Procuro um lugar
Em que minha voz ecoe
Para todos
Eu não seja apenas mais um
Esse lugar me trás paz
Mas não o conheço
Aflição e desespero no grito
Deixe-me gritar no teu ouvido
Para que saibas
Acolha-me em teu colo
E acredite em minha felicidade
Falsa
Mas continue sorrindo

sábado, 2 de abril de 2011

Poça, planície e vento

Final de verão
Inicio da colheita
O trigo dourado no chão
Vai ate onde a vista alcança
Planície infinda
De infância
Bate a brisa, essa acaricia o meu rosto
E faz-me lembrar dos teus cabelos
Dourados como o trigo e sedosos como o vento
Emaranhado é o trigo
Como emaranhados éramos nós
Sigo eu na estrada de barro batido
Estrada dura como a vida
E choveu, como se é de esperar
Havia poças no caminho
Poças na planície
Olho a poça, mas nela nada vejo
Rasa a ponto de não refletir minha imagem
Profunda a ponto de não ver seu fundo
Paro e jogo uma pedra na poça
De nada adianta
As ondas se dissipam e novamente poça
Sem reflexo sem nada
Agoniado eu procurava uma resposta
Não queria que refletisse ou que fosse translúcida
Queria uma resposta
Aflito vou de poça em poça
Como quem sempre quer algo que nunca vai existir
Porem não para de procurar
As poças vão secar
Levando-me a caminho do mar
O mar, esse sei que reflete
Vejo o céu na sua lamina
Azul mas de nada me conforta
Tanta água, tanta paz
Paz demais
Quero o medo de não ter respostas
De secar enquanto definho em pensamentos
Quero poça, planície e vento